May 7, 2025

Em abril inadimplência cresce entre famílias de baixa renda e homens

Em abril inadimplência cresce entre famílias de baixa renda e homens

Pesquisa da CNC alerta para pressão sobre o orçamento doméstico e endividamento em alta

A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) registrou alta do endividamento das famílias brasileiras em abril. Segundo o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,6% dos lares declararam possuir algum tipo de dívida, patamar superior ao mês de março (77,1%). Ainda assim, o percentual é menor que em abril do ano passado, quando chegou aos 78,5%.

O dado mais preocupante, no entanto, é a elevação da inadimplência. O percentual de famílias com dívidas em atraso atingiu 29,1%, retornando ao nível observado em janeiro deste ano. Além disso, também cresceu o número de famílias que afirmam não ter condições de quitar suas dívidas atrasadas. O índice, que em abril de 2024 estava em 12,1%, atingiu 12,4%, o maior valor desde o início do ano.

A análise histórica ainda mostra que, apesar de o percentual de endividados oscilar dentro de uma margem estreita nos últimos meses, a capacidade de pagamento das famílias tem se deteriorado. Isso se reflete no aumento do tempo de duração das dívidas em atraso, com destaque para a faixa entre 30 e 90 dias. Já os compromissos com prazos superiores a um ano vêm caindo, indicando maior concentração de dívidas de curto e médio prazo. O percentual de famílias inadimplentes por mais de 90 dias, que vinha em queda, estacionou nos 47,6%.

“O crescimento da inadimplência, especialmente entre as famílias de menor renda, acende um alerta para o equilíbrio financeiro das famílias brasileiras. Embora o volume de endividados não tenha atingido novos recordes, a dificuldade dos núcleos familiares em honrar os compromissos aponta um cenário que exige atenção”, avalia o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Maior aperto entre os mais pobres

O recorte por faixa de renda mostra que os brasileiros que recebem até três salários mínimos enfrentam a situação mais crítica. O mês de abril encerrou com 81,1% dessas famílias endividadas, a maior proporção entre todos os estratos, com 37% relatando contas em atraso. Além disso, 17,5% declararam que não têm condições de pagar as dívidas.

A diferença é expressiva quando comparada às famílias que ganham mais de dez salários mínimos. Neste recorte, apenas 15,2% estão inadimplentes e 5,4% afirmam que não conseguirão quitar as dívidas atrasadas. Apesar disso, a classe de maior renda também apresentou maior endividamento no mês (+0,7 p.p.), o que sinaliza uma pressão mais ampla no orçamento das famílias brasileiras.

“A persistente concentração da inadimplência entre as famílias de menor renda reflete uma combinação de fatores estruturais, como a informalidade e o alto custo do crédito para esse público. Mesmo com sinais de recuperação do consumo, esses grupos enfrentam maior vulnerabilidade financeira e têm menor margem de manobra para lidar com os imprevistos”, explica o economista da CNC João Marcelo Costa.

Aumento das dívidas entre os homens

O levantamento também destaca um avanço maior do endividamento entre os homens, que passou de 76,5% para 77,2%. O índice de inadimplência masculina também cresceu, subindo 0,7 ponto percentual em abril (28,5%), enquanto entre as mulheres o aumento foi de 0,3 ponto percentual (29,6%). Na prática, o público feminino ainda é o mais endividado e inadimplente, mas o avanço entre os homens chama a atenção.

Renda cada vez mais comprometida

Outro dado importante é que o comprometimento médio da renda com dívidas subiu para 30%, sendo que 20,5% das famílias já comprometem mais da metade de seus rendimentos com pagamentos parcelados. Apesar disso, a percepção subjetiva de endividamento caiu: menos consumidores se consideram “muito endividados”, sinalizando algum grau de acomodação diante da realidade financeira.

Endividamento deve seguir em alta

As projeções da CNC apontam um crescimento contínuo do endividamento ao longo de 2025, com avanço estimado de 2,4 pontos percentuais no comparativo entre dezembro de 2024 e deste ano. A inadimplência, por sua vez, também deve seguir em alta (+0,5 p.p.), pressionada por juros mais elevados e menor acesso ao crédito. A entidade destaca ainda que programas governamentais de incentivo ao consumo podem contribuir para um endividamento ainda maior se não forem acompanhados por políticas de educação financeira e controle da inadimplência.

Acesse a análise completa, a série histórica e vídeo do economista da CNC responsável pela divulgação da Peic

Fonte: CNC

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